top of page

 

RESUMOS

Para baixar os resumos das apresentações atualizado, clique aqui.

CONFERÊNCIAS

Pensar las emociones: afectos y sensaciones en la comedia griega antigua, Claudia Nélida Fernández (Universidad Nacional de la Plata) 

En el ámbito de los Estudios Clásicos, desde hace más de una década, el estudio de las emociones ha logrado consolidarse como un campo específico de investigación, con objeto de estudio, metodología y marco teórico disciplinar propios.  Nuestra charla parte del marco general de referencia que estos estudios han construido, para reflexionar sobre los afectos (emociones y sensaciones) en la comedia conservada de Aristófanes. En razón de la fuerte dependencia del género cómico antiguo de las contingencias socio-políticas de su tiempo, y porque entendemos que las emociones son ante todo un hecho social, que involucra un juicio de valor sobre el significado de los sucesos ante los cuales responden, estimamos que indagar sobre el régimen emocional de la jurisdicción cómica -esto es, acerca de las emociones que el género acoge, propicia o repele- podrá proveer información acerca de las creencias, valores, y deseos de los antiguos griegos en relación con su imaginario social. La cólera, la indignación, la envidia, la nostalgia, el temor y la piedad serán algunas de las emociones de las que hablaremos.

Camus e Tucídides. O eterno retorno da história, Maria de Fátima Silva (Universidade de Coimbra)

A Peste de Camus estabelece com a descrição da peste em Atenas, feita por Tucídides na História da Guerra do Peloponeso, um diálogo evidente. Antes da abordagem da epidemia - histórica em Tucídides e simbólica em Camus - ambos os textos desenham o perfil da cidade afetada, captada no seu apogeu ou, pelo menos, no seu quotidiano normal. Dentro dessa sequência, o mal recebe um sabor 'trágico', pelo seu desabar imprevisto e radical. O fenómeno é considerado por ambos os autores nas suas caraterísticas: na forma como penetra e se manifesta, de modo subreptício, numa comunidade, e no aparato dos seus sintomas e consequências. Mas por trás dos acontecimentos de superfície, há um objetivo mais profundo a valorizar: em ambos os textos se desvendam as contradições entre o sentido da vida e a tomada de consciência do sofrimento humano e da inevitabilidade da morte.

MESAS REDONDAS

O quão ideal é o romance grego?, Adriane Duarte (USP)

O romance de amor idealizado (ideal love novel; em Bakhtin “romance aventuresco de provação”) constitui o núcleo principal do corpus supérstite do romance na Antiguidade. Sua trama está centrada na paixão à primeira vista de um jovem casal de beleza extremada e pertencente à elite local de suas cidades que luta contra uma série de adversidades para permanecer juntos. Pretende-se examinar nessa fala qual o grau de idealização desse romance de amor, a partir da análise de duas cenas dos livros Quéreas e Calírroe, de Cáriton de Afrodísias, e Leucipe e Clitofonte, de Aquiles Tácio. Se há idealização do par amoroso e da natureza de sua paixão, fruto de inspiração divina, também há elementos visíveis  de violência, especialmente contra a mulher, que muitas vezes não é abordada nos trabalhos acadêmicos.

Musônio Rufo e ecologia no século I, Aldo Dinucci (UFS/ Pesquisador honorário da University of Kent)

Enquanto em outros estoicos se verifica uma afirmação de proeminência do humano frente à Natureza, em Musônio temos o que podemos chamar de uma ecologia antiga: a afirmação de que cabe ao humano ajudar a natureza, suavizando suas abundâncias e mitigando suas carências, a reflexão de que o caráter comunitário das abelhas serve de exemplo para a humanidade. Em Musônio, temos uma visão integrada do humano e da natureza, cabendo a nós segui-la no sentido de viver de modo mais natural e orgânico possível quanto à alimentação e à habitação, o que faz de Musônio um filósofo com reflexões absolutamente atuais e inspiradoras para nós.

A Paz  As Aves: nas asas da comédia, Ana Maria César Pompeu (UFC)

As comédias A Paz  e As Aves  trazem voos e asas bem diferentes, pois em uma o voo de um vindimador em um escaravelho ou rola-bosta, um besouro que come fezes, enquanto na outra há o voo de dois atenienses que se transformarão em aves e ouvirão o canto do rouxinol. No entanto, o belo e o feio se invertem nos objetivos dos protagonistas. Trigueu, protagonista de A Paz, representa o próprio  poeta cômico, monta um escaravelho para libertar a Paz para todos os gregos, ganhando como esposa a própria Opora ou Outona, a deusa das colheitas, enquanto Pisetero, o protagonista de As Aves, o  homem persuasivo que usa os pássaros para obrigar Zeus a dar-lhe a Soberania como esposa, torna-se a inversão essencial da aparência do belo e do feio nas duas peças.

Isso aqui não é grego, André Malta Campos (USP)

Meu objetivo é comentar minhas ideias principais para criar o canal no YouTube ISSO AQUI NÃO É GREGO. Vou falar sobre como os episódios dialogam com as ferramentas didáticas dos Estudos Clássicos em geral e de como elas podem ser revistas num caso em particular, do ensino da filosofia platônica.

Os Crimes de Clitemnestra e as maneiras trágicas de argumentar em Ésquilo e Antifonte, Anna Christina Silva (Universidade dos Açores)

É no contexto dos crimes praticados por Clitemnestra para vingar o assassinato de Ifigênia que iremos sublinhar as relações entre a intencionalidade das ações e a livre deliberação. Também iremos apontar algumas afinidades que aproximam a habilidade retórica da rainha esquiliana com os eloquentes oradores dos discursos de Antifonte.

Deste modo, pretendemos mostrar que tanto o poeta quanto o filósofo colocam em questão o problema da intencionalidade dos crimes de sangue ao explicitarem através da capacidade discursiva e dialógica dos seus  oradores a tensão existente entre a velha práxis da vingança e os novos códigos da legislação draconiana.

Por uma única definição de justiça em República IV, Carolina Bomfim Araújo (UFRJ) 

Essa apresentação pretende reunir todas as passagens-chave sobre justiça no livro IV da República de Platão para defender que não há duas definições, uma justiça política e uma justiça psicológica, mas apenas uma, com duas cláusulas. Começo com 441d1-442b4, para mostrar que justiça não é algo como "cuidar da sua própria vida", mas sim "buscar o seu próprio bem sem interferir em que os outros façam o mesmo." Excelência pessoal, portanto, significa a) que o raciocínio, thumos e desejo florescem cooperativamente, ou seja, cada um deles concomitantemente desempenhando seu papel de forma a não interferir no florescimento dos outros, e b) que o raciocínio prevalece e que o apetite, a forma não racional do desejo, não se desenvolve. Essa conclusão nos leva diretamente a 442b10-d7, que mostra como as quatro virtudes cardinais estão interligadas. Em seguida, chamo a atenção para a ênfase de Sócrates na justiça não sendo "uma função para cada um", em 443c4-442a2, mas o florescimento cooperativo baseado na harmonia interna, ou seja, a ausência de conflitos. A seguir, volto para 441c4-d6 para deixar claro que a passagem não implica uma abordagem analógica. Ao contrário, simplesmente afirma que os tipos na alma dos agentes explicam as características das cidades. Por fim, analiso 433a1-434b7 afirmando que esse passo também define justiça como “buscar o seu próprio bem sem interferir em que os outros façam o próprio bem, e isso como resultado da prevalência do raciocínio”. Concluo que uma cidade justa é definida como o resultado da interação de cidadãos justos.

O uno neoplatônico como expressão de liberdade e simplicidade, Cícero Cunha Bezerra (UFS) 

O postulado neoplatônico de um princípio irredutível às categorias ontológicas é algo que, sem sombra de dúvida, inaugurou uma perspectiva filosófica que definiu, de modo radical, uma parte significativa da história da filosofia. O que para alguns autores pode ser pensado como uma “superação da metafísica clássica” – mediante a exclusão do “ser” ou “substância” como fundamento, será entendido, aqui, como uma dinâmica em que a tradição platônica, reinterpretada à luz de uma hermenêutica específica, me refiro aqui à exegese plotiniana das hipóteses do Parmênides, permite-nos afirmar que, na base das filosofias de matriz neoplatônica, residem dois conceitos imprescindíveis para a história da filosofia do helenismo à contemporaneidade, a saber: liberdade e simplicidade

O amor "conforme à natureza" e o "antinatural": Foucault, intérprete da conhecida passagem das "Leis", 1, 636c, Ernani Chaves (UFPA)

Em conhecida passagem de seu diálogo "Leis", Platão distingue entre a relação "conforme à natureza", aquela que liga o homem e a mulher visando a reprodução e a relação "antinatural", de homens com homens ou de mulheres com mulheres. Esta passagem pode ser interpretada, à primeira vista, como uma condenação moral da chamada relação "antinatural", uma vez que a distinção feita por Platão seria marcada por uma certa concepção de "natureza". O objetivo de minha intervenção é mostrar como Foucault no segundo volume da "História da sexualidade" interpreta essa passagem, em consonância ou não com outras interpretações.

Apolo testemunha de Sócrates no tribunal, Fernando Santoro (UFRJ)

Em sua defesa, Sócrates não chama, como era costume nos tribunais, nenhum concidadão de boa reputação para testemunhar a seu favor, mas invoca, de forma igualmente inusitada, o próprio deus que mora em Delfos, Apolo, como única testemunha de defesa. A invocação de Apolo é uma tirada que poderia mostrar uma fervorosa piedade – afrontando diretamente a acusação de impiedade que lhe era imputada – mas que também pode passar por forte arrogância, por tratar o Deus como uma testemunha qualquer. Sócrates está plenamente consciente do risco. Ainda mais que na ocasião do processo estaria em curso a procissão sagrada à ilha de Delos – como o atesta o adiamento da execução. A presença de Apolo, intencional e circunstancial, é plena de significados para o julgamento e sua repercussão na história de Atenas e da Filosofia Ocidental.

Fascínio versus persuasão verdadeira: Glauco e o compromisso dialético da República em 357a-358b, Flora de Carvalho Mangini (PUC-Rio/Sorbonne Université-Paris IV – Centre Leon Robin)

Na literatura antiga, encontramos uma sólida tradição que correlaciona o fascínio da sedução à atividade em torno da persuasão (ver Hesíodo, Teogonia 346; Safo, Fragmento 200; Pausanias, 9. 35. 1, entre outros). 

Já na República, Platão parece incorporar e ressignificar muitas das crenças tradicionais da sua época. Quando o tema é a persuasão, quais são os modos como ele faz isto?

Nesta comunicação, nos deteremos à abertura do livro II da República. Momento do diálogo em que vemos Glauco desafiar Sócrates a persuadi-los verdadeiramente (357b[1]), e em seguida, dizer do embate que testemunharam, que Trasímaco cedeu com muita facilidade; tendo sido fascinado por Sócrates como uma serpente sob o feitiço: ὥσπερ ὄφις κηληθῆναι (358b).

Três questões organizarão a nossa leitura: (1) como a atribuição desta questão a Glauco informa o caráter dramático que Platão dá a este personagem?, (2) a sequência da República oferece soluções para este desafio?, e (3) encontramos no diálogo uma teoria em torno do modo como reagimos aos estímulos dos outros?

[1] δοκεῖν πεπεικέναι ἢ ὡς ἀληθῶς πεῖσαι

 

Diotima, uma ficção platônica?, Gislene Vale dos Santos (UFBA)

Objetivo discutir, principalmente a partir do livro Women Philosopher, Vol.1. (Ancient Women Philosophers), organizado pela pensadora norte-americana Mary Ellen Waithe, a pertinência da afirmação de que a personagem Diotima, interpretada pela História da Filosofia como ficção platônica no Banquete, existiu enquanto pessoa histórica. Para isso exporei os argumentos explicitados por Waithe, defendendo a historicidade efetiva da filósofa de Mantineia.

De nossa humana condição: poesia grega em tempos de pandemia, Giuliana Ragusa (USP)

A proposta da palestra é observar na poesia grega arcaica, principalmente, os fios que tecem a visão sobre a condição humana e sua relação com o cosmo, entrelaçando-os aos da trama da pandemia atual, que tudo suspendeu, tudo alterou, tantas perdas tem trazido, e por isso mesmo tanto nos faz pensar sobre nosso próprio ser e estar no mundo.

Os clássicos e a memória da gratidão, Inácio Valentim (ISPSN, Huambo)

O nosso objetivo é olhar para filosofia, sobretudo, a filosofia socrático-platónica como um conjunto de reflexão sobre o cuidado de si e consequentemente sobre o reconhecimento e a gratidão. Podemos encontrar esta perspectiva filosófica em vários textos de Platão assim como no estoicismo. Mas, é sobretudo com as leituras platónicas de Michel Foucault que vão permitir entrar mais a fundo desta questão de análise do cuidado de si e da gratidão como um caminho filosófico enquanto filosofia como modo de vida.

O Hades homérico e as tradições mesopotâmicas, Jacyntho Brandão

Em breve

Os escritos de Plotino e seus leitores na Antiguidade, José C. Baracat Júnior (UFRGS)

Porfírio nos diz, na Vida de Plotino, que seu amigo e mestre escrevia de modo inspirado e conciso; era mais abundante em ideias do que em palavras; e compunha seus escritos, geralmente derivados de suas aulas e destinados a seus amigos e pupilos, de uma única vez, como se os copiasse de um livro mental, sem jamais reler ou corrigi-los por conta de sua visão enfraquecida. Algumas consequências dessa descrição, supostamente verdadeira, são aceitas sem questionamento – ou, pelo menos, não inspiraram reflexões ulteriores –: por exemplo, que a linguagem das Enéadas não é elaborada e que seu autor não emprega com frequência técnicas retóricas. Duas suposições, especialmente, são facilmente aceitas: a primeira, que Plotino escreveu todos os seus lógoi do mesmo modo; e, a segunda, que, embora fosse amplamente conhecido e lido na Antiguidade, todos os seus lógoi foram escritos para serem lidos dentro de um círculo filosófico e social limitado. Meu objetivo, portanto, é refletir acerca de algumas informações dadas por Porfírio na biografia de Plotino, a fim de sugerir que i) seus lógoi não são, todos eles, um mesmo e único tipo de escrito; ii) que, sendo diferentes em estilo e estrutura, pode-se pensar que pressupunham leitores diferentes; iii) e, finalmente, que esses leitores não se restringiam aos seus amigos e pupilos.

“... Qualquer amor já é um pouquinho de saúde...”, Jovelina Ramos (UFPA)

Na presente exposição pretendo observar o modo como Guimarães Rosa recepciona Platão, em Grande Sertão: Veredas, para tratar de uma temática universal, o amor. Se a narrativa rosiana sobre os amores de Riobaldo, permite pensar o elogio erótico-dialético de Diotima, por sua vez, Lenine se deixa afetar pela beleza do discurso do escritor mineiro e o transporta para Amor é pra quem ama, mostrando que a atualidade dos clássicos está nos reconhecimentos que ultrapassam épocas e encantam quem se deixa encantar por eles.

A vida de Hipácia de Alexandria: o que dizem as fontes antigas?, Loraine Oliveira (UFPE)

Hipácia viveu na virada do século IV para o V EC, na cidade de Alexandria, grande centro cultural do Egito romanizado. As fontes mais antigas sobre ela de que dispomos, informam que era filósofa e matemática, e que teria ensinado publicamente. Suas aulas eram abertas a quem quisesse assistir, e entre seus discípulos encontravam-se pagãos, cristãos e judeus. Parece que manteve laços de amizade com alguns discípulos, bem como alguns dentre eles devem ter mantido entre si, o que não é estranho ao ambiente filosófico da época. É ainda descrita como mulher de grande beleza, que manteve-se casta e virgem. Além disso, há algumas narrativas discordantes sobre sua morte. O fato é que dela mesma nada chegou-nos e tenta reconstruir sua história, ou identificar traços de sua filosofia depende de um estudo acurado das fontes antigas. Esta apresentação tem o intuito de mostrar as principais fontes e problematizar o que delas se pode depreender.

O Timeu como experimento mental, Luca Pitteloud (UFABC) 

Nesta apresentação, eu pretendo mostrar que o eikôs muthos de Timeu pode ser entendido como um experimento mental. Para apoiar essa ideia, defenderei a afirmação seguinte: o Demiurgo não deve ser entendido como um princípio ontológico, mas como um ponto de vista epistemológico. Somos colocados, como leitores, dentro da mente de um artesão divino e devemos tentar reencenar a constituição de todo o universo no laboratório de nossas mentes. Mais precisamente, quando se trata de realidades macro e microscópicas, uma vez que nenhuma experiência empírica pode ser empreendida sobre elas, seguir os passos do Demiurgo acaba sendo uma forma particularmente eficiente de obter novos conhecimentos sobre nosso universo sem a introdução de dados empíricos. Depois de abordar quais critérios devem ser preenchidos a fim de qualificar como um experimento de pensamento, tentarei sugerir que não apenas a descrição do caos pré-cósmico satisfaz esses critérios, mas também o raciocínio do Demiurgo em seu todo quando se trata de descrever como transferir a inteligibilidade no sensível. Se algumas partes das atividades intelectivas do Demiurgo são claramente argumentativas (principalmente dedutivas), um processo de pensamento experimental pode ser identificado através a criação de uma imagem mental que reúne as conclusões desses raciocínios em uma representação quase-espacial. Mais especificamente, o experimento mental de Timeu nos permite chegar a uma visualização externa (de fora do universo) e interna (dentro dos quatro elementos) do Todo. Desta forma, a perspetiva demiúrgica não precisa ser um princípio causal responsável pela fabricação do universo animado (o mundo alma e corpo), mas pode muito bem ser entendida como uma espécie de macro e microscópio ontológico revelando-nos como o universo e seus constituintes participam do Modelo inteligível.

A vingança de Eco.  Desejo, voz e corpo nas Metamorphoses de Ovídio en em HER de Spike Jonze, Marco Formisano (Ghent University)

As Metamorfoses ovidianas não são somente o poema das transformações do corpo, mas também da voz sem corpo, nomeadamente do texto sem a sua materialidade. Nesse poema o leitor é frequentemente lembrado que o corpo - em latim o corpus também é o texto - não é sempre necessário para que a palavra se faça presente. Pelo contrário, a escritura material e a voz são frequentemente alternativas. Particularmente impressionante é o episodio de Eco, no livro III, onde a ninfa infeliz acompanha a estória de Narciso como porta-voz do corpo que  desapareceu. Vamos buscar interpretar o filme HER, de Spike Jonze (2013), como uma narração que idealmente recoloca em uma perspectiva pós-humana essa discussão sobre voz e escrita, onde será possível analisar algumas aproximações com o conto ovidiano. Nessa apresentação, procuro tratar das implicações teóricas da comparação entre o texto latino e o filme contemporâneo, levando em conta tanto os estudos recentes sobre a voz, quanto a diferença da mídia - a escritura material e o filme sonoro e visual.

Apatheia nos estoicos e em Evágrio Pôntico, Marcus Reis Pinheiro (UFF)

Esta apresentação busca delinear as aproximações e diferenças entre os conceitos de apatheia nos estoicos em geral e em Evágrio Pôntico (346d.C-400d.c.). É bem conhecido que para os estoicos, as emoções (pathos) são distúrbios da alma e devem ser superados através de exercícios filosóficos específicos. Assim, a vida boa, aquela do sábio, é marcada pela ausência das emoções, a apátheia, que deve ser pensada ao lado de ataraxia como o telos da vida estoica. Tal objetivo de vida boa é alcançada através de uma ascese típica da escola estoica. Em Evágrio Pôntico, as emoções estão vinculadas tanto às perturbações dos demônios e quanto ao nosso consentimento às suas tentações. A apátheia é, portanto, a vitória sobre os demônios e o indício de que o monge está pronto para ingressar na vida gnóstica, isto é, na vida contemplativa e mística. Se por um lado, pode-se dizer que nos estoicos a apátheia é o próprio telos da vida boa e a prova da presença da virtude na vida do sábio, em Evágrio, a apátheia, embora seja a marca da vitória sobre os demônios, ainda se trata de uma das etapas da vida ascética do monge.​

Las prohibiciones en Hesíodo y su dimensión subjetivante. La preocupación por el ethos desde una lectura político-antropológica, Maria Cecilia  Colombani  (Universidad de Morón/Universidad de Mar del Plata)

El proyecto de la presente comunicación consiste en analizar el apartado que Hesíodo le dedica a las prohibiciones en Trabajos y Días. Entendemos que el apartado cumple algo más que una función prescriptiva; creemos que las prohibiciones que allí aparecen están al servicio de contribuir a formar un determinado tipo de hombre inscrito en los valores de la piedad, el respeto y la virtud como los hitos sobre los que se apoya la reforma educativa y moral que el poeta de Ascra propone en su poesía didáctica. El juego de las prohibiciones podría ser comprendido en el marco de un poder negativo, meramente interdictivo con un fin específico, esto es, la formulación del “no debes” como mero reaseguro del orden social. Pensamos en el concepto de M. Foucault de poder negativo como un ejercicio del poder vinculado a la interdicción que genera sujetos obedientes a la ley. Sin desconocer los distintos ámbitos de aplicabilidad del concepto, tomamos el término solamente para pensar la dimensión de un poder que, desde su enunciación, baja la prohibición. No obstante, consideramos que esto constituye sólo un aspecto de la experiencia didáctica y que quedarnos en ese matiz arrojaría una lectura raquítica y unilateral del fenómeno recortado. El otro matiz radica en la positividad del poder de esa palabra en tanto realizadora de efectos y transformaciones a nivel antropológico. La prohibición es sólo una arista que se completa con el segundo momento productivo de la enunciación. La prohibición da lugar a un efecto deseado, esto es, la transformación del hombre en un varón virtuoso. Desde esta perspectiva el corpus de prohibiciones supera la mera instancia del no para convertirse en una fuente de afirmación de conductas deseables socialmente. De este modo, el varón piadoso y prudente se constituye como tal en el corazón de una experiencia que parece meramente negativa pero que, en realidad, constituye la condición de posibilidad de afirmar un determinado ethos.  La eficacia del logos hesiódico es también política, en tanto productora de efectos. Hesíodo es el testigo de un alto nivel de corrupción en las costumbres; su época es una época transida por la hybris y la injusticia; por ello, su rol didáctico, su palabra persuasiva y su logos sapiente es una respuesta política a la coyuntura.


Eros e o casamento em Plutarco, Maria Aparecida de Oliveira (UNIFESP)

Em Diálogo do amor,  Plutarco narra vários episódios que servem de exemplo para sua teoria do amor que se fundamenta no casamento, que é regido por Eros, que tem ao seu lado a deusa Afrodite e as Cárites. O objetivo dessa apresentação é analisar a composição e a estrutura da teoria do amor exposta por Plutarco, bem como demonstrar a influência platônica na construção de seu diálogo.

Electra e Helena no sertão do Piauí, Maria Cecília Miranda N. Coelho (UFMG)

Análise de alguns aspectos da recepção dos mitos de Electra e de Helena na tragédia  "Lazzaro" (1948) e na comédia "A Nova Helena" (1957), de Francisco Pereira da Silva (1918-1985).   A obra dramática completa desse piauiense, que residiu no Rio de Janeiro de 1942 até seu falecimento, foi publicada em três volumes (FUNARTE, 2009), edição que permitiu o contato com esses dois textos até então inéditos, embora não fossem desconhecidos no ambiente teatral brasileiro -- "Lazzaro" recebeu o prêmio Revelação de Autor, da ABCT, em 1952. Além da análise das duas peças comparativamente a dramas gregos com os quais dialogam, é sugerido que elas sejam consideradas traçando um paralelo com as peças "Senhora dos Afogados" (1947, de Nelson Rodrigues)  e "Lição de Botânica" (1905, de Machado de Assis).

 

A epistolografia epicurista, Markus Figueira da Silva (UFRN)

Uma abordagem do estilo epistolar e aforismático de Epicuro e a propagação da filosofia como maneira de viver nas comunidades epicuristas.

Apetite e razão em República IV, Matheus Jorge do Couto Abreu Pamplona, (Bolsista CAPES, Grupo POIESIS, PPGLM/UFRJ)

Neste trabalho, procurarei reconstruir o argumento em favor da divisão da alma em três partes (epithymētikón, thymoeidḗs, logistikón) no livro IV da República (435c-441c), priorizando, durante a minha exposição, a separação operada por Platão entre apetite (epithymētikón) e razão (logistikón). Concentrar-me-ei especificamente em aduzir as razões oferecidas por Sócrates no argumento para o estabelecimento do epithymētikón e do logistikón como partes distintas, pois meu objetivo consiste em demonstrar que o reconhecimento de que há partes diferentes na alma não implica num desprovimento total do apetite de componentes de ordem cognitiva. Ao questionar a tendência interpretativa segundo a qual o principal resultado visado por Platão ao particionar a alma seria reconhecer a existência de desejos irracionais em nós (438a), tentarei mostrar por que este tipo de leitura acaba por reduzir demasiadamente o escopo do argumento e acaba por obscurecer as razões para a introdução da possibilidade de conflito psíquico.

"As máximas valem mais que a força do braço": saber prático, viver e ser cidadão no teatro de Sófocles, Orlando Luiz de Araújo (UFC)

Associado ao festival dedicado a Dioniso, deus do vinho e da embriaguez, o espetáculo trágico se enquadra, precisamente, na dimensão política e religiosa da cidade. Organizado pela cidade, era uma forma de mostrar a potência de Atenas aos olhos dos seus aliados. Atrelado à política e à religião, a representação trágica ultrapassa os limites da diversão, para propor aos espectadores uma reflexão acerca do valor da vida e aconselhar sobre como se deve viver em comunidade. Desse modo, as tragédias oferecem aos seus espectadores como eles devem conduzir o destino da cidade, refletindo, assim, questões relevantes para a cidade e para o homem. Para servir de suporte à nossa análise, selecionamos fragmentos das sete tragédias supérstites de Sófocles, em especial, os trechos em que as falas das personagens refletem temas sobre a cidade e a condição humana. 

Traduzir o grito: a Antigonick de Anne Carson, Otávio Guimarães (UFPA)

Proponho olhar a tradução que Anne Carson faz da Antigona de Sophokles, titulada Antigonick, como um artefato de linguagem, uma partitura para realização um ato de linguagem, para a realização do grito que chamamos de Antigona. Esta será pensada junto à tese de multiplicidade tradutória linguística presente em Borges, Cassin e Ricoeur, em que a tradução pode ser compreendida como um elogio ao múltiplo, como um saber se movimentar entre fronteiras e limites, um mover rumo a diferenças; fato que está presente na tentativa de Carson de traduzir algo distinto – o silêncio – de uma forma distinta – catástrofe –, de pensar outra possibilidade para aquela linguagem que fuja ao discursivo comum, dando voz a uma fúria contra o clichê e tendo como base a ololyga, grito ritual feminino da Grécia antiga, e as concepções da mulher como aquela que rompe limites por excelência, aquela que polui, que desloca e que toca com a voz. Por fim, a partir das concepções de Carson, argumento que a tradução e performance são modos privilegiados para pensar o mundo, a multiplicidade e diferenças.

Recepção da ideia de phùsis de Demócrito de Abdera na modernidade,

Patrícia Nakayama (UNILA)

Nas Stromata (Patchwork, IV, 151) de Clemente de Alexandria, encontramos a doxografía sobre Demócrito na qual apresenta-se uma concepção muito particular de natureza (phúsis), que é similar à instrução humana, estabelecendo assim o nómos. Esta comunicação pretende elucidar a ambivalência entre nómos e phúsis presente nesta concepção de natureza atribuída a Demócrito. Nossa hipótese discute como a ideia que estabelece o significado dos signos (symbola) é a convenção e a noção de indivisibilidade (átomo) desta, de modo a consolidar o nómos, uma vez que ele pode vir a constituir-se de modo ilimitado e divisível, através da instrução humana. Por fim, trataremos brevemente como esta noção fundamentou o contrato social moderno, especialmente em Thomas Hobbes.

Teógnis e uma Erotodidáxis arcaica, Rafael Brunhara (UFRGS)

Lido por Platão e Xenofonte, consagrado como autor de máximas morais, a história da literatura grega imortalizou Teógnis de Mégara como um mestre da virtude política.  A afortunada transmissão de sua poesia – 50 manuscritos, datados da época bizantina – confirma esta visão da Antiguidade, apresentando-nos poemas que advertiam e instruíam um jovem interlocutor nos códigos de uma aristocracia que lutava contra o desaparecimento. Um destes manuscritos, porém, conservou um segundo livro com poemas que nos mostram um Teógnis diverso: um amante cínico, irascível, sempre pronto para acusar, mas perdidamente apaixonado. Leremos alguns poemas do Livro II, com a intenção de mostrar como Teógnis se vincula a uma tradição de poesia erótica recorrente nos banquetes gregos e que as duas dimensões de sua poesia – erótica e política – não são necessariamente opostas, mas complementares.

A democracia ateniense condenou a filosofia? Refletindo sobre a Apologia de Sócrates e o Críton, Rafael Davi Melém da Costa (Grupo POIESIS, Escola de Aplicação/UFPA)

Nesta exposição, procuro refletir acerca da relação entre filosofia e democracia a partir do contexto do julgamento e prisão de Sócrates tais como retratados nos diálogos Apologia de Sócrates e Críton de Platão. Meu principal interesse é interrogar as possibilidades de conexão entre democracia e filosofia, sejam de consonância ou dissonância, com base na reflexão platônica contida nesses diálogos.

Escolas filosóficas em contraste em Vida de Apolônio de Tiana I, VII de Filóstrato, Rogério Gimenes de Campos (UNILA)

Gostaríamos de apresentar uma cena em que Filóstrato descreve aspectos do desenvolvimento intelectual e escolar de Apolônio de Tiana como exemplar de um convívio pleno entre diferentes escolas filosóficas no Império Romano, escolas que não se excluíam, mas que contribuem igualmente para a formação de Apolônio. O trecho mostra natural mescla entre diferentes concepções filosóficas, o que comumente é descrito como ecletismo, apesar da escolha inequívoca de Apolônio pela vida pitagórica. O trecho importa, destacando a atualidade dos clássicos, na medida que precede a polarização excludente entre filosofias, sendo sublime informação de um passado que se torna inspirador, uma vez que observamos atualmente simplificações e polarizações no campo da filosofia marcadas pela falta de sofisticação argumentativa, intolerância, além da falta de percepção histórica, impedindo e desqualificando o desenvolvimento pleno das filosofias na maioria das esferas comunicativas e educacionais.

COMUNICAÇÕES

O caráter político das tragédias e as cartas estéticas de Friedrich Schiller: relação existente entre filosofia e poesia, Alcione Santos (Grupo Estética, Idealismo e Romantismo, IFPA, PPGFIL/UFPA)

Benedito Nunes inicia o seu livro Hermenêutica e poesia, com a seguinte frase: “Desde o seu nascimento, a filosofia nunca foi indiferente à poesia” (NUNES, 2011, p. 13). O autor comprova a ligação existente entre filosofia e poesia na trajetória do pensamento, e nos faz refletir sobre a importância desse debate para a compressão dos limites das manifestações de caráter artístico e filosófico. Na antiguidade, por exemplo, os poetas eram considerados verdadeiros filósofos, mas, como observa Nunes, eles não deixavam de ser poetas indo à filosofia, pois “nem a filosofia transforma-se em poesia, nem a poesia transforma-se em filosofia” (NUNES, 2011, p. 15). Mas recentemente, diz Nunes, é o Romantismo que concebe “a associação entre o filósofo e o poeta” (NUNES, 2011, p. 13). E é nesse contexto, em que a imagem do filósofo e a do poeta são aproximadas, que precisamos entender o projeto de Friedrich Schiller visando à formação moral da humanidade. Por isso, nosso interesse é mostrar que há uma analogia entre as obras dos trágicos no âmbito da polis, e a defesa de Schiller nas Cartas, da anterioridade da educação estética na formação política dos homens, na medida em que só a arte, segundo ele, pode harmonizar dois domínios que sempre estiveram separados na história do pensamento. 

Platão, diálogo e paideia, Camila de Souza da Silva (Grupo PAIDEIA, PPGED/UFPA)

Em Platão é possível reconhecermos sua grande preocupação, dentro de um projeto político-filosófico, com a formação do homem, principalmente quando analisamos, por exemplo, obras como Banquete, Ménon e República. O diálogo (logos) é apresentado, em alguns casos, como fundamento de um espaço privilegiado à aprendizagem e ao exercício ético. Inicialmente a arte de dialogar exige uma metodologia de confronto de perspectivas entre os que dialogam, um em referência ao outro direcionando-nos a compreensão de determinado assunto, como no caso do Amor no Baquete ou da Virtude no Ménon, e isto, por sua vez, só é possível se pensarmos em uma construção dialética do diálogo (logos). Desse modo, intentamos, neste trabalho, mostrar como o discurso (logos), nos encaminha para uma noção do que Platão compreende por paideia, principalmente enquanto valor intrínseco às relações humanas e sociais.

A concepção do Amor: a metáfora do nascimento de Eros no Banquete, Claudio de Souza Menezes Júnior (PIBIC/UFPA, Grupo POIESIS, FAFIL/UFPA)

O encômio a Eros (o Amor) de Sócrates-Diotima, no Banquete, é repleto de imagens. Mas, para que compreendamos como Eros é concebido nesse discurso, é particularmente necessário analisarmos a metáfora do nascimento de Eros (203a-204a). Sendo assim, mediante a análise e interpretação desse discurso imagético, objetivo mostrar como o Eros daimônico de Diotima é ilustrado em sua plenitude nessa “longa história” (203b), uma vez que características essenciais desse ser – tais como o seu caráter ambíguo ou intermediário e a sua relação com a beleza na busca do que é bom – já podem ser então vislumbradas. Proponho, enfim, um estudo do caráter filosófico e artístico/literário dessa imagem proposta por Diotima, de modo a observarmos como a representação imagética e conceitual coadunam-se em um belo e rico discurso.

O conceito de ontologia no livro IV da Metafísica de Aristóteles, Élida Teixeira Soares (Grupo Estética, Idealismo e Romantismo, PPGFIL/UFPA)

A Ontologia é um domínio que abrange toda a história da Filosofia conhecida, desde os gregos até pensadores contemporâneos importantes, como Martin Heidegger e sua ontologia do Dasein. Mas, assim como cada sistema filosófico parece ser diferente um do outro, ao tentarmos conceituar a Ontologia, surge uma certa confusão, afinal, como vemos em Heidegger, ele entende que na história da Filosofia aconteceu o esquecimento do ser, ou seja, do próprio objeto da Ontologia. E um dos alvos da crítica de Heidegger ao esquecimento do ser é Aristóteles. Por essa razão, estamos propondo estudar o conceito de Ontologia em Aristóteles, concentrando nossa análise no que ele diz sobre esta “ciência” no Livro IV da sua obra Metafísica. Nosso objetivo, com essa proposta é saber se é possível encontrar em Aristóteles uma definição precisa de Ontologia que nos guie no estudo dessa parte da Filosofia.

Infâmia ou Coragem? A recepção de Michel Foucault para a ética cínica, Flávio de Lima Cordeiro Filho (Grupo Filosofia Contemporânea, Bolsista CAPES, PPGFIL/UFPA)

A trajetória das investigações de Michel Foucault são ligadas a temática do poder, contudo está longe de ser seu único foco de pesquisa. No final da década de setenta e início dos anos oitenta Foucault ministra cursos na mais alta instituição de ensino superior francesa, Collège de France, tais cursos tangenciaram vários temas, contudo o mais frequente deles foram aqueles que abordavam as relações interpessoais entre os sujeitos, em especial o seu último curso, A Coragem da Verdade (1984), em que o filósofo francês desenvolve o conceito de parresía, e para tal empreitada Foucault retorna a antiguidade clássica para compreender como os sujeitos são reconhecidos como aqueles que dizem a verdade, é importante ressaltar que a essa interpretação do dizer-a-verdade é uma perspectiva ética do fazer filosófico, logo nos afastaremos de concepções epistemológicas. A partir disto Foucault lança mão da interpretação da Filosofia enquanto modo de vida e identifica o movimento cínico como aquele que levou as últimas consequências a parresía, sendo conhecidos como cães, vivendo de acordo com a natureza, abrindo mão de qualquer luxo e questionando as convenções sociais. A partir disto analisaremos como a ética cínica contribui para a problemática do sujeito de Foucault, que segundo o próprio sempre foi seu maior interesse.

Ética e animalidade no mundo grego, Flávio Valentim de Oliveira (SEDUC/PA)

É possível falar de uma philia animal? Pelo menos de uma amizade que não torne o animal em amigo burlesco ou que não seja um disfarce apropriado da nossa agressividade? Os gregos também se dividiam sobre essas questões. Segundo um relato antigo, Pitágoras foi motivo de escárnio por parte de seus coetâneos por dialogar com animais. O motivo da ironia se deve ao fato de que Pitágoras reconheceu a alma de um falecido e querido amigo em um animal. Os pitagóricos reconheciam que os animais possuíam intelecto e ânimo e eram incluídos na doutrina da metempsicose como criaturas dotadas de alma, ou seja, eram criaturas que não apenas sonhavam, mas que também participavam dos ciclos de reencarnação e dos rituais de purificação da alma. Por outro lado, na tradição materialista antiga, Demócrito reconhecia que diante do medo de ser agredido por outros grupos humanos, o homem necessitou falar não por motivos ontológicos, mas para apaziguar sua animalidade. Desse modo, esse trabalho analisa alguns tópicos do lugar do animal e da animalidade nas doutrinas éticas do mundo grego.

O poder em Antígona e Creonte, Igor Matheus Paiva da Neves Santos (PIBIC/UFPA-AF, Grupo POIESIS, FAFIL,/UFPA)

As questões tratadas na tragédia Antígona, de Sófocles, ainda são muito debatidas em pleno século XXI, principalmente, ao que diz respeito, as relações de poder entre os personagens, Antígona e Creonte. Na qual, ao longo de todo tragédia, buscam e defendem poderes distintos. No sentido de que, enquanto, Creonte prioriza o poder absoluto (pautado nas leis escritas ou da cidade), Antígona, sua sobrinha, preza pelo poder natural (centrado nas leis não-escritas). Ao ponto, que as concepções distintas sobre o que seja o poder e como exercê-lo acabam levando ambos a exercerem papéis rígidos e cometerem ações impensadas na defesa dos seus valores. No que diz respeito, principalmente, ao personagem Creonte, cuja insensatez, o leva a proibir que Polinices – seu sobrinho e irmão de Antígona – seja sepultado e receba os rituais fúnebres. Enquanto, por outro lado, a personagem Antígona, indo contra o autoritarismo do rei, tenta sepultar seu irmão escondido, sendo flagrada por um dos guardas e levada ao seu tio, justamente a causa do embate entre eles. Somado a isso, o conflito entre os personagens evidencia, também, o contraste entre a representação política e a humana, pois Antígona é caracterizada de forma mais humanizada, enquanto Creonte é caracterizado, totalmente, na esfera política. Por fim, temos como intuito, discorrer sobre uma das grandes questões tratadas na tragédia: o poder. Especificamente, centrando em mostrar, como tanto Antígona quanto Creonte relacionam-se com o poder e como a busca deste os afetaram.

Imagens do feminino no fragmento I do poema de Parmênides de Elea, Ítalo Vieira Lima (PPPGLETRAS/UFC)

Trata-se de investigar uma questão pouco explorada e intrigante. O poema filosófico de Parmênides chegou até nós apenas em fragmento (dezenove no total) e em todos eles aparecem referências imprescindíveis ao feminino: éguas, jovens mulheres filhas do sol, Deusa. O que propriamente poderia significar as imagens femininas expostas por Parmênides em seu poema filosófico? Seria Parmênides um proto-feminista? Caso não, o que poderá significar o recurso ao feminino como determinante para sua poesia filosófica? Essas são algumas das questões que procuramos responder nesse trabalho, porém limitar-se-á a explicitação do fragmento B1, o proêmio desse poema, nesta investigação. Indispensável a este trabalho é o livro de Livio Rossetti Un altro Parmenide, no qual o autor aborda a questão do feminino no poema de Parmênides; no entanto, outras também serão usadas. O que buscamos alcançar neste artigo é engendrar uma interpretação coerente acerca do feminino a partir do proêmio (fragmento B1) do poema de Parmênides de Elea.

O olhar de Aristóteles em Medeia: o conflito entre razão e paixão, Jeam Carlos Andrade Lopes (SEDUC/PA, Grupo POIESIS, PPGFIL/UFPA)

O presente trabalho pretende interpretar o conflito entre pathos e logos, na protagonista Medeia da obra em questão, tendo em vista o Livro I da Ética a Nicômaco. Nele, mais precisamente no capítulo 13, Aristóteles explica que o elemento apetitivo, sendo uma das duas partes da natureza irracional na alma, participa do princípio racional, na medida em que o escuta e o obedece. Enquanto no indivíduo continente, as paixões e os desejos estão alinhados à razão, no indivíduo incontinente, porém, nesse embate entre as duas naturezas opostas na alma, quem vence é a irracionalidade. Sendo assim, longe de querer imputar uma visão anacrônica à obra de Eurípides, ofereceremos, nesse ensaio, uma interpretação das ações de Medeia ao cometer o infanticídio: agiu de forma desmedida, porque o escárnio e o riso dos inimigos era algo que não poderia suportar. Para ela, o marido traidor, ao adquirir novas núpcias, mesmo tendo descendência, não poderia sair impune de seus atos. Por isso matar seus próprios filhos, além da princesa filha de Creonte, parece ser a vingança perfeita. Mas a decisão não é feita sem dor, pois na iminência de cometer o assassinato, sente que a vingança lhe custará um preço alto demais: a privação da companhia de sua prole. Nesse sentido, se anteciparmos a nossa interpretação sob o olhar de Aristóteles na obra, as lamentações da protagonista estão situadas no elemento irracional da alma, na parte apetitiva que envolve a racionalidade, haja vista que, em suas inquietações, mesclam-se a paixão, o desejo de vingança, o amor materno e a consciência de seus atos injustos. O conflito que lhe é presente, exporia a parte apetitiva, do elemento irracional, que tende a dominar, ao ser motivada pelo desejo de vingança de matar Jasão, a princesa e os próprios filhos, e a razão, de outro lado, ao interrogar-se sobre o alto preço dessa vingança: ficar sem um futuro em que estejam presentes. Medeia, a partir dessa leitura, é aquela que, mesmo sabendo do certo a se fazer, prefere dar vazão aos seus desejos e paixões.       

As mulheres na tragédia grega,  Larissa Caroline Moreira Noleto (PIBIC/FAPESPA, Grupo POIESIS, FAFIL/ UFPA).

É certo afirmarmos que as mulheres foram representadas inúmeras vezes nas tragédias. No entanto, suas participações neste gênero literário se diferenciam da jornada dos heróis e têm um propósito diverso dos deles em inúmeras questões, sendo, inclusive, uma força antagônica em muitos casos. Numa sociedade criada por homens e para homens, como era a Grécia Antiga, e está até hoje exercendo influência na cultura ocidental, compreender a representação do feminino nas tragédias é de enorme relevância se quisermos entender como essa representação foi construída ao longo da história. Dessa forma, nesta comunicação buscaremos esta compreensão através de um estudo acerca de uma personagem em específico: Fedra, apresentada na obra Hipólito, de Eurípides.

Ironia e metáfora a favor do diálogo socrático, Leo Souza Tolosa (Grupo Estética, Idealismo e Romantismo, Bolsista CAPES,  PPGFIL/UFPA)

A reflexão socrática é notoriamente marcada pela sua característica de diálogo, onde o filósofo se coloca em contato direto com o público ao qual ele se dirige e constrói sua reflexão a partir de uma investigação conjunta sobre um mesmo tema proposto. Esta maneira de encarar a tarefa do esclarecimento acaba por incentivar o debate dentro do cotidiano da pólis e aproxima os temas da filosofia à vida do homem comum, porém, para que este público se coloque disposto ao confronto de ideias, Sócrates se utiliza de artifícios retóricos para gerar um envolvimento em sua proposta de discussão, onde podemos destacar a presença da ironia e metáfora. Desta forma, o presente trabalho visa investigar como estas duas figuras de linguagem servem ao filósofo para que seja possível pensar tais elementos como fundamentais à compreensão da figura de Sócrates, bem como o próprio discurso filosófico em si.

A relação eros e beleza entre Safo e Platão, Marjore Mariana Lima Lacerda (Bolsista CAPES, Grupo POIESIS/ PPGFIL/ UFPA)

No seguinte trabalho, procuraremos analisar de que maneira Platão, no diálogo Banquete, recepciona alguns aspectos encontrados nos fragmentos de Safo. No discurso de Sócrates, através de Diotima, a construção de eros se pauta no desejo daquilo que está ausente em sua natureza: por ser carente do que é belo e bom, eros procura sempre possuir esses elementos. Em alguns fragmentos sáficos, a persona feminina entoa o lamento por alguém ausente no presente, mas que no passado estivera ao seu lado, num momento mais feliz e aprazível, sem angústia. Mostraremos, dessa maneira, que já nos fragmentos de Safo, a ausência da amada torna-se o elemento impulsionador do erotismo em direção à beleza, elementos também encontrados por Platão, no diálogo já citado, redimensionados para a perspectiva filosófica. Assim, almejamos pontuar que Platão traz-nos nuances da poesia de Safo, tais quais a noção de desejo, ausência, a relação entre eros e beleza, e o equilíbrio entre opostos.

Entre o cão e o lobo: a metáfora animal na gestão do desejo em A República, Maurício Sérgio Borba Costa Filho (PPGFIL/UFPA)

O presente trabalho tem como objetivo propor uma leitura das imagens do tirano-lobo (566a), presente no Livro VIII de A República, e do guardião idealizado à semelhança do cão de boa raça (375e, 376a), presente no Livro II, como metáforas particularmente importantes na interpretação do projeto ético-político da referida obra. A partir do recurso de Platão à imagem do cão como modelo para a classe mais privilegiada de guardiões e à imagem do lobo, seu contrário, como o equivalente do homem tirano (que é também tiranizado) – imagens reverberantes que correm reflexamente na estrutura do texto platônico, e que sintetizam engenhosamente o percurso da economia do desejo de A República -  leremos o diálogo como uma narrativa dinâmica de antropogênese, uma zoopolítica, um ir e vir entre animalidade e humanidade.

A recepção de Platão na Dialética Transcendental, Paulo Corôa (UFPA)

Na Crítica da razão pura, B370, quando se propõe a estabelecer o conceito técnico de “ideia” no contexto de sua filosofia transcendental, Kant faz a seguinte afirmação: Platão serviu-se da expressão ideia de modo tal, que se via bem que por ela entendeu algo que não somente é jamais tomado emprestado dos sentidos, mas ultrapassa de longe os próprios conceitos do entendimento com os quais Aristóteles se ocupava, na medida em que na experiência não é encontrado nada congruente com ela”. Essa afirmação é fundamental para que entendamos como Kant se orienta relativamente aos dois maiores filósofos gregos, e como ele se serve do modelo gnosiológico apresentado por Platão em República, 510 a – 511 e, de modo a determinar, por meio dele, a função específica da alma a que estão ligados os problemas morais. Nossa intenção é mostrar como Kant utiliza a recepção da teoria platônica das ideias em seu projeto de fundamentação dos costumes. 

Amor servil e amor livre nos discursos de Pausânias e Diotima no Banquete de Platão, Sandy Naeli Wanderley Iketani (Grupo POIESIS/UFPA)

Neste trabalho farei uma breve análise dos discursos de Pausânias e Diotima no Banquete de Platão, evidenciando os aspectos do encômio de Pausânias que caracterizam seu modelo erótico como servil; e no elogio de Diotima destacarei quais elementos permitem-nos reconhecer um modelo erótico livre.

O mito das viagens da alma e a origem do mal em Platão, Victor Lucas Silva da Conceição de Souza (Grupo POIESIS, PPGFIL/UFPA)

O escopo principal desta exposição é analisar o mito das viagens da alma apresentado no Fedro e o argumento platônico acerca da origem do mal apresentado nas Leis, livro X, bem como a alma cósmica que rege todo o universo e a sua relação com o intelecto humano. Busca-se argumentar sobre da existência de uma inteligência cósmica anterior à inteligência humana e quais as consequências advindas da não observância da alma cósmica pelos seres humanos nas suas ações morais. Parte-se da hipótese de que a origem do mal se dá na ruptura da relação entre as almas humanas e a alma cósmica. Para isso, será exposto como Platão, no Timeu, justifica cosmologicamente a criação do corpo e da alma do mundo pelo demiurgo, bem como se dá a origem do homem e a sua relação ética com o cosmos. Em seguida, será abordado como Platão, nas Leis, defende a existência de um logos divino (887c-899d) apresentando os argumentos da alma como causa primeira (896a), do movimento e do automovimento (895b), bem como a precedência lógica da alma sobre o corpo (893b) e a hipótese levantada por Platão acerca da alma má e do seu alcance cósmico. Após essa apresentação, o se articulará esta visão com o mito das viagens da alma (Fedro, 246d–249d), a fim de mostrar as implicações cosmológicas e éticas da presença de um demiurgo que ordenou o mundo. 

 

Magia, metamorfose e persuasão: a transgressão retórica de Medeia, Vitória Alexandra Silva da Silva (PIBIC/UFPA, Grupo POIESIS, FAFIL/UFPA)

É inquestionável a habilidade retórica de Medeia, seja em ludibriar Creonte ao lhe pedir mais um dia para ser enviada ao exílio, seja por dissuadir Jasão a pedir a revisão do edito de seus filhos. É por essa via que seus planos incendiários e sanguinolentos são postos em prática para ferir a Jasão por abandonar os seus. A personagem euripidiana nos é apresentada com traços que encantam, não apenas por meio da magia, mas também pela palavra, o que a põe, portanto, no espaço do mundo antigo que narra a desmedida das personagens femininas, dentre as quais pode se destacar, Electra, Lisístrata e Clitemnestra. Suas ações são marcadas pela intensa oralidade e por estratégias insidiosas. É acerca da posição de Medeia como mulher, estrangeira e feiticeira, que se pretende discutir na presente comunicação, atribuindo tal habilidade como duplo de sua barbaridade.

bottom of page