Resumos
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CONFERÊNCIAS
As mulheres de Aristófanes e sua recepção nos diálogos platônicos
Ana Maria César Pompeu, PPGLETRAS, UFC
Este trabalho tem como objetivo confrontar o retrato das mulheres na República de Platão e na Assembleia das Mulheres de Aristófanes, verificando a crítica de Platão ao tratamento cômico das ideias revolucionárias sobre a comunidade das mulheres, dos bens e dos filhos. Tais ideias já se prefiguram nas comédias femininas do século V: Lisístrata e Tesmoforiantes, que são recepcionadas por Platão no Banquete, no discurso de Aristófanes sobre os gêneros primordiais, especialmente o andrógino.
As filósofas socráticas
Carolina de Melo Bomfim Araújo, PPGLM, UFRJ
Trata-se um primeiro esboço de uma pesquisa sobre a arqueologia das mulheres filósofas na Grécia Antiga. Por arqueologia entendo o estabelecimento de causas que possibilitam a educação dessas mulheres a partir do convívio com outros filósofos, traçando os padrões desse tipo de relação. Aqui me interessam as dez filósofas que surgem nas três primeiras gerações de socráticos, as quais agrupo entre as filhas – Menexena, Argeia, Theognis, Artemisia e Pantácleia de Mégara, e Areté de Cirene – as companheiras – Nicarete de Mégara e Hipárquia de Maroneia – e as discípulas: Lastênia de Mantineia e Axioteia de Fliunte. Sendo extremamente escassa a informação sobre as doutrinas dessas pensadoras, a conclusão limita-se a situá-las no contexto do socratismo, indicando hipóteses segundo as quais esse movimento entendeu a importância da educação de filósofas.
Safo de Lesbos: a paixão e o ciúme entre imagens e palavras
Celina Figueiredo Lage, PPGArtes, UEMG
Safo foi uma poetisa que gerou muitas controvérsias em sua recepção, principalmente em relação à interpretação de seus poemas. Os poemas atribuídos a ela são escassos e muito fragmentados, encontrando-se nos seus versos um alto teor de pessoalidade. Safo expressa muitos sentimentos e emoções, os quais são debatidos até os dias de hoje pelos especialistas, na tentativa de compreender a psicologia dos antigos e como esses sentimentos estão sujeitos a variações através dos tempos. Teceremos alguns comentários sobre os poemas e as imagens relativas à poetisa, principalmente no que diz respeito à paixão e ao ciúme, e a sua recepção através dos tempos.
O poder feminino em Aristóteles
Francisco Jose Gonzalez, University of Ottawa
De acordo com o relato dos manuais da filosofia aristotélica, a matéria é dunamis no sentido de uma potência puramente passiva para receber uma forma específica que a tornaria realmente (em energeia) esse ou aquele tipo de coisa. Por exemplo, o bronze em si tem o potencial de se tornar um caldeirão ou uma arma ou uma estátua, e o artesão é quem produz um ou outro, dando-lhe uma certa forma. Muitas vezes, na Geração dos Animais, Aristóteles parece impor este "modelo técnico" da distinção energia / dunamis ao processo natural de reprodução animal (por exemplo, Livro 1, cap. 21-22). Em outras palavras, ele parece acreditar que os bebês são feitos da mesma forma que as estátuas de bronze são feitas: a mãe fornece apenas a matéria, enquanto a semente fornecida pelo pai serve como a ferramenta que molda essa matéria em uma coisa viva real. O que este artigo procura mostrar, no entanto, é que, qualquer que seja seu valor heurístico, esse modelo simplista é extremamente complicado, a ponto de ser minado pela biologia de Aristóteles. Em primeiro lugar, a mulher na narrativa de Aristóteles, é tão "geradora" quanto o homem e, ainda que sofrendo menor "cocção", ela também contribui com a "semente" na formação da prole (um fato obscurecido pela infeliz tendência de se traduzir sperma no texto por "esperma"). Ele, portanto, rejeita explicitamente a visão tradicional de que a fêmea é apenas um receptáculo que recebe a semente do macho. Em segundo lugar, a contribuição da fêmea não é a matéria sem forma, mas um corpo (soma) capaz, como um autômato, de se mover e se desenvolver sozinho após o início do movimento pela semente masculina. Finalmente, tanto a defesa de Aristóteles da epigenesiscontra a pangenesis quanto sua descrição da hereditariedade fazem com que a mulher contribua ativamente para a forma da prole, apesar da tentativa textualmente insustentável de alguns estudiosos de negar isso. O resultado é um modelo muito mais complexo e cientificamente frutífero da distinção forma / matéria.
A coralidade e o mundo das parthénoi nas canções de Safo
Giuliana Ragusa, FFLCH, USP
A conferência tratará da coralidade na mélica (ou lírica) grega arcaica de Safo, aspecto que tem sido recentemente repensado e revalorizado como fundamental à compreensão de sua poesia e de seu universo, e sobretudo da relação entre a poeta e seu grupo de moças não-casadas ou virgens – as parthénoi. Para tanto, partirá de um dos mais recentes fragmentos publicados de Safo, descoberto em 2005, a “Canção sobre a velhice”, que foi decisivo para o retorno com novas lentes ao corpus preservado da mélica sáfica, a fim de analisar nesse conjunto os elementos da coralidade que permitem, também pelos avanços dos estudos de performance, ver de modo mais preciso a produção de Safo, alargando a distância das leituras biografizantes e romantizadas, que tanto buscam na poeta o que é estranho à sua poesia e, em verdade, à poesia antiga como um todo: a voz pessoal, o subjetivismo, o intimismo, a privacidade, os sentimentos confessos do “eu”.
À soleira da porta, fronteira espacial entre homens e mulheres na tragédia grega
Orlando Luiz de Araújo, PPGLETRAS, UFC
A tragédia põe em cena o Outro do grego: o bárbaro, o estrangeiro e a mulher. Personagens trágicas como Medeia representam essa alteridade, pois, além de mulher é estrangeira. Assim, é alguém que vive na fronteira entre o mundo do grego e o do bárbaro, no qual os costumes parecem estranhos aos olhar civilizado dos helenos. Na tragédia, isso também está presente na relação que se estabelece entre a cidade, a pólis, e a propriedade, o oîkos. Nesta fronteira, aparentemente bem definida, o conflito constitui elemento importante para a definição dos papeis, visto que o feminino ideal está no interior da casa, enquanto o masculino ocupa o espaço público, sede das decisões políticas. Entre o exterior e o interior, encontra-se a soleira da porta, lugar ambíguo e tensivo, porque, a um só tempo, instaura o limite e o desconstrói. Nesta comunicação, pretende-se tratar do espaço destinado ao homem e à mulher, na tragédia grega, e de como esses espaços se cruzam e se entrecortam, imiscuindo-se um no outro e fazendo da soleira da porta um lugar perigoso.
A Elegia de Andrômaca: forma e expressão do lamento feminino na poesia grega antiga
Rafael de Carvalho Matiello Brunhara, PPG-Letras UFRGS
As palavras de Andrômaca (vv.103-116) na tragédia homônima de Eurípides permitem pensar as representações do feminino e o seu estreito vínculo com a tradição do lamento na Grécia Antiga. Ao mesmo tempo, os versos em questão parecem explorar os limites e tensionar o típico lugar ritual atribuído às mulheres nessa instituição, na medida em que, na tessitura da tragédia mesma, se apresentam sob a forma de elegia, poesia tradicionalmente composta, praticada e representada por homens no espaço do simpósio. Esta comunicação busca investigar esta ambivalência e dissertar sobre as características do lamento ritual feminino e seu lugar entre os gêneros poéticos gregos.
MESAS REDONDAS
Fedra e a fatalidade da paixão
Cláudia Grijó Vilarouca, FALE, UFPA
Este trabalho consiste, num primeiro momento, numa análise da fatalidade da paixão nas obras Hipólito de Eurípides e Fedra de Racine. Para esta análise, de cunho comparativo, serão considerados principalmente os seguintes aspectos: a mão infalível dos deuses, na tragédia de Eurípides; a predestinação sob a perspectiva do jansenismo, na peça de Racine; e o papel da paixão nas ações de Fedra em ambas as obras. Com isso, pretende-se mapear o movimento da paixão nessas obras de modo a compreender a perspectiva desoladora com que ela é tratada, enfocando a personagem Fedra.
Os trajes femininos, o deus duplo e o hermafrodita grego
Flávio Valentim de Oliveira, Filosofia, SEDUC
A poesia antiga, as primeiras teogonias e os mitos elaborados pelos filósofos atestam que a imagem do masculino e do feminino ou do deus duplo se constituiu como um importante símbolo de singularidade no espírito grego. Esta comunicação se propõe em analisar a correspondência da deusa Afrodite com o deus Hermes e o desdobramento na figura dos hermafroditas, cujo nome é composto por essas duas divindades. De um lado, temos claramente a menção a deusa Afrodite e, de outro, uma menção ao irmão de Eros, que se parece com a sua mãe, mas muito pouco com seu pai na representação do deus robusto, barbudo e viril. A existência de palavras compostas do tipo Hermathena, Hermares, Hermeros designavam um Hermes de Atena, um Hermes de Ares e um Hermes de Eros que datam da época romana. Esse deus duplo era visto como um protetor da união sexual. A própria imagem de Hermes, segundo Delcourt, se confundia com a do deus cipriota Aforditos que, embora barbudo, se vestia com trajes femininos. O hermafrodita representou crenças e sentimentos do antigo mundo grego, pelo menos isso pode ser observado nos ritos nupciais (como ritos de iniciação) e até mesmo dos sentimentos religiosos. As esculturas mostram que o hermafrodita fazia parte do mundo das formas, do livre jogo e até mesmo das invenções e distorções da realidade. Mas, certamente, é a cosmogonia do Banquete platônico que nos leva ao mais profundo inconsciente humano. Não era propriamente um escândalo no mundo antigo os homens vestirem solenemente as roupas femininas e as mulheres as roupas masculinas. O hermafrodita era a figura que apresentava elementos comuns, mas era, ao mesmo tempo, a figura que revelava um outro. O caso mais explícito são os travestimentos coletivos, como parte importante dos ritos nupciais. Ritos esses muitas vezes dedicados a iniciação dos jovens, cujo uso arcaico da figura do travesti estava combinado a uma proeza: a conquista de uma esposa.
A Construção da Imagem da Boa Esposa na Literatura Clássica
Francisca Patrícia Pompeu Brasil, Língua Portuguesa, SEDUC/CE
A literatura clássica costuma apresentar vários aspectos do casamento na Antiguidade. Um deles é a imagem que a mulher assumia no papel de esposa. Podemos destacar duas imagens distintas: a da esposa virtuosa, sempre prendada e honesta; e a da esposa irracional, fraca, que se deixa levar por suas paixões. Sobre a primeira imagem, é interessante observar que ela é construída através da atribuição de duas funções básicas à mulher: a primeira seria a de objeto de prazer, daí o destaque dado à beleza de algumas personagens; e a segunda é o da organização familiar – pois é a esposa quem vai cuidar da casa e dos filhos para que o marido possa cumprir suas obrigações fora do ambiente doméstico. Sendo essas duas funções tão valorizadas pelo homem, podemos observar que os textos que buscam representar a mulher ideal farão uso constante dessas características em suas personagens exemplares. Na literatura clássica, destacam-se personagens que representam a imagem da boa esposa. Penélope, da obra A Odisseia, de Homero, representa um modelo de virtude, paciência e fidelidade, pois, durante vinte anos, nos quais seu marido esteve lutando na guerra de Troia e perdido por terras estranhas, ela o esperou pacientemente, e rejeitou todos os pretendentes. Podemos citar também a personagem Alcmena, uma vez que, segundo o mito, ela só se deixou seduzir por Zeus, o deus dos deuses, porque este tomou a forma de Anfitrião. O deus faz isso por conhecer a virtude da bela mortal, sabendo que esta seria sempre fiel ao marido. Também podemos citar Alceste, da tragédia homônima de Eurípides. Por ser uma esposa apaixonada e dedicada, ela foi capaz de dar a vida por seu marido Admeto, mas foi trazida de volta dos braços da morte pelo herói Héracles, filho de Alcmena. Por fim, podemos ainda destacar o casamento e a imagem feminina na comédia. Nos textos de Aristófanes, há exemplos de mulheres revolucionárias, como na peça Lisístrata, em que a protagonista desconstrói a imagem da boa esposa, ao liderar uma greve de sexo, para, em seguida, reconstruir essa imagem, uma vez que tinha como intuito acabar com a guerra e promover o regresso dos homens aos seus lares. Em nosso trabalho, temos como objetivo destacar alguns exemplos de personagens da literatura clássica a fim de identificar como se deu a construção da imagem da boa esposa.
O caráter subversivo da personagem Antígona de Sófocles
Isabella Vivianny Santana Heinen, Filosofia, UEPA
O estudo propõe a reflexão acerca da tragédia de Sófocles, Antígona, peça que aborda fundamentalmente as vicissitudes práticas de conduta, abarcando questões morais e políticas. Nesse sentido, delineia-se entre o limiar da autoridade do Estado e a convicção pessoal, explorando a postura tirana de Creonte e o caráter determinado e subversivo da personagem Antígona, que contraria as decisões à sociedade e a ela impostas. Faz-se necessário compreendê-la como uma heroína grega, em razão de ainda que aprazível e respeitosa, também é forte e decidida, combatendo duramente os valores de sua época, caráter este de subversão. Em vista disso, a partir de uma interpretação deleuziana, presume-se uma transformação nas formas de perceber e interpretar baseadas em convenções sociais. Referenciando-se por autores como Deleuze e Guattari, objetiva-se admitir que a personagem encontra-se relacionada bem mais com uma contradição do que com uma situação previsível pelos procedimentos instituídos, ou seja, quer-se não apenas problematizar criticamente as regulações do modo de ser da mulher, mas reconhecer na filosofia destes autores uma experiência própria do pensamento, a do pensamento sem imagens, cuja heroína grega caracterizada pela aparente desobediência e retórica condizente ao devir da criação, apresenta em comum com a arte de criar conceitos o caráter subversivo, já que ambas as perspectivas expressam o direito de todo cidadão resistir e enfrentar leis incoerentes. Baseando-se na filosofia da diferença, Deleuze (2006) sugere a multiplicidade, o novo, o insólito e a variação, da qual a expressão da diferença adotada não se caracteriza, necessariamente, pela subordinação à mutabilidade do conceito e, sim enquanto autêntico acontecimento. Destarte, bem mais que reforçar ou compreender uma atitude de rebeldia encenada por Antígona é importante reconhecer uma tentativa de interposição no mundo, através de se pensar o não habitual, o incomum, permite-se atribuir um novo significado as suas experiências e ser integrante do procedimento de interpretação e criação no mundo.
A voz feminina nos lamentos trágicos
Joseane Prezotto, PNPD UFC
Gravam-se com vivacidade na mente do leitor de tragédias as imagens do sofrimento causado pela impossibilidade de prestar as honras devidas aos parentes, bem como os pungentes cantos de lamento, acompanhados de gestual frequentemente violento, que fazem parte da realização dessas honras. Andrômaca, Hécuba e as troianas, Helena, Antígona, as mães dos sete guerreiros argivos mortos em Tebas, Electra, a rainha persa Atossa, entre outras personagens que protagonizam comoventes atos de súplica por seus mortos e/ou lancinantes cantos e rituais de lamento, nos lembram do papel fundamental que a mulher teve como criadora e intérprete desse diálogo da comunidade com seus mortos.
A voz feminina proveniente do contexto teatral tem uma força ainda mais excruciante se nos lembrarmos que ela resulta de produções masculinas, dos corpos de homens que a realizam e encenam. Aí ela pode ter encontrado, no entanto, meios de extravasar o lugar público ‘oficial’ dado à voz e ao corpo da mulher no período clássico: o silêncio, a invisibilidade. Considerando o silêncio com um lugar idealmente imposto à mulher nesse “sistema de autoridade androcêntrico altamente codificado” ˗ tal como testemunham, entre diversos exemplos, o epitaphios logos, que Tucídides atribui a Péricles, e a declaração de Sófocles: “Silêncio é o kosmos [a correta disposição] das mulheres” (citado por Aristóteles, Pol. 1260a30) ˗ perceber que a força da voz feminina é incontornável no gênero trágico motiva-nos a, na desconstrução daquela fala oficial, encontrar paradigmas distintos que afloram dessa negociação contínua do cidadão grego com seu Outro radical. Assim como expôs Loraux (1986), na oração fúnebre, invenção ateniense, os atenienses inventam Atenas, ou seja, idealizam. É neste lugar, então, que o silêncio e a invisibilidade como kleos feminino estariam colocados, em um mundo ideal. Na tragédia ateniense, por sua vez, percebemos que o corpo e a voz femininos não podem ser ignorados impunemente, e os valores que expressam insistem em moldar confrontos que ultrapassam uma definição binária feminino vs. masculino como uma oposição simples. Os tragediógrafos parecem conscientes da autoridade tradicional das mulheres sobre os ritos de morte e do potencial que interferir com o luto tinha de provocar reações violentas. Em nossa comunicação, temos o objetivo de abordar a voz feminina na Grécia Antiga por meio dos lamentos femininos na tragédia, clamando o lamento com um gênero de poesia popular oral, relacionado sobretudo às funções sociais, religiosas e criativas das mulheres na antiguidade.
Ana Cristina Cesar e a revisão da mulher na Literatura da antiguidade
Josiclei de Souza Santos, ILLA, UNIFESSPA
Na história da Literatura ocidental, no que diz respeito à viagem, há duas representações de mulher: a mesma ou significa a impossibilidade da viagem, ação exclusivamente masculina, sendo reservado à mulher o papel da espera, protegida no refúgio do lar, contra os perigos do mundo, demasiado grandes para uma suposta fragilidade feminina, ou a mesma se inscreve entre os signos de mistério, perigo e/ou conquista a espera do domínio fálico, servindo, então, tais signos femininos como meios de autoafirmação da potência masculina na aventura da viagem. O presente estudo mostra como essa representação feminina construída por homens desde a antiguidade vai ser objeto de desconstrução por parte da poeta e pesquisadora em Literatura Ana Cristina Cesar, que vai estabelecer uma relação intertextual de réplica com importantes textos que de alguma maneira tratam da mulher e da relação desta com a viagem, mas agora a partir da exposição da negação à viagem a que foi relegada a mulher. Veremos como a autora dialoga com textos clássicos, como Odisseia, de Homero, e com o mito de Hekáté.
Pelos poderes de Afrodite
Jovelina Maria Ramos de Souza, PPGFIL, UFPA
No Fr. 130 1-2 LP, Safo caracteriza Eros com o epíteto “doceamargo” (glykyprikon), enquanto no Fr. 1 LP, mais conhecido como Hino a Afrodite, representa Cípris como “tecelã de ardis” (doloploke), em razão de ela causar encantamento-sofrimento, naqueles que são afetados pelo seu poder. A partir deste recorte, pretendo pensar a presença de Afrodite, no Banquete, sob dois aspectos: o da visibilidade, que se mostra na dualidade de Eros e Afrodite, proposta por Pausânias e o da invisibilidade, presente na ambiguidade entre o desejo de um belo corpo e o desejo de um corpo belo, conforme revela Diotima a seu jovem aprendiz nos mistérios do amor.
Safo e a homossexualidade feminina: uma proposta dialógica e teórico discursiva entre a antiguidade e a atualidade
Joyce Cristina Farias de Amorim, Doutoranda PPGCLC, UNAMA
O presente estudo tem como objetivo trazer à luz das discussões concepções de/sobre homossexualidade feminina na/da antiguidade tendo como uma das principais referências a poetisa grega, Safo. A ideia foi realizar um diálogo e/ou uma discussão teórica entre a concepção que se tinha naquele período e a visão que se tem hoje sobre a homossexualidade feminina, e como os escritos e a história de Safo pode contribuir para a desconstrução da homofobia nos dias atuais.
O que vem depois do abismo: Lisístrata, Antígona e a vontade de verdade na representação feminina no Teatro Grego
Larissa Latif Plácido Saré, CLLC, Universidade de Aveiro / Ana Carolina Magno de Barros, Doutoranda PPGArtes, UFPA
Este artigo pretende compreender a noção grega vontade de verdade atualizada por Michel Foucault (2017) dentro da representação feminina presente nas personagens "Lisístrata" e "Antígona" criadas pelos dramaturgos da comédia e da tragédia Aristófanes e Sófocles, respectivamente. Para tanto utilizaremos como procedimento metodológico a cartografia (PASSOS; KASTRUP; ESCÓCIA: 2009), no intuito de mapear as ações destas, problematizar sobre suas existências mínimas (LAPOUJADE: 2017) e a referida noção.
Amor, beleza e fecundidade na scala amoris do Banquete
Matheus Jorge do Couto Abreu Pamplona, Doutorando PPGLM, UFRJ
Neste trabalho, procurarei mostrar qual a função desempenhada por noções como “geração” e “parturição” no interior da doutrina metafísica que é construída no Banquete (210a-212b). Minha hipótese é de que Platão, ao valer-se de noções essencialmente femininas, subverte os princípios que guiavam as relações homoeróticas da Grécia de seu tempo, e procura fundar, sobre as noções de amor e beleza, uma nova paideia.
Anne Carson tradutora de Antígona
Otávio Guimarães Tavares, FALE, UFPA
Anne Carson é atualmente uma das mais aclamadas poetas, ensaístas, dramaturgas e tradutoras de língua inglesa, entretanto, a precisão destes termos se torna nebulosa diante da autora que, em grande parte, tem como traço fundamental a mescla e desarticulação dos limites literários. Dentro deste escopo, e mais importante para está fala, é o inusitado lugar de Carson como uma classicista e, ao mesmo tempo, elaboradora de uma literatura experimental que faz recordar, em muito, a irreverencia formal e temática das vanguardas. Esta mescla se torna visível em sua Antigonick, uma tradução da Antígona de Sophokles recheada de anacronismos e invenções inusitadas. Tendo isto em mente, a pergunta maior que guia esta fala é: o que significa traduzir Antígona nos dias de hoje, porém traduzi-la não em um molde habitual, mas propositalmente quebrando com os parâmetros de uma tradução mais convencional que pressuponha a aparente fidelidade ao texto grego e, ao mesmo tempo, deixando claro sua consideração das encenações e adaptações que a precedem - Hölderlin, Brecht, Anouilh - e da vasta reflexão - Hegel, Lacan, Zizek, Butler - que inevitavelmente povoa parte da interação com a peça de Sophokles? Acima disto, o que significa para uma mulher traduzir Antígona, fazer Antígona falar (não como uma projeção masculina de mulher)? O que indico aqui é que o ato tradutório de Carson é o de falar e fazer falar, de permitir a fala diante da pluralidade de vozes (muitas vezes masculinas) que insistem em se apropriar de Antígona. A tradução de Carson é, a meu ver, uma Antígona antagônica que insiste em falar e se recusa a calar.
Cantar e mostrar o amor: ressonâncias de Safo de Lesbos em Diotima de Mantineia?
Rafael Davi Melém da Costa, Filosofia, Escola de Aplicação da UFPA
Com a presente exposição procuramos, a partir da temática do amor, explorando ressonâncias do discurso erótico de Safo de Lesbos nos mistérios eróticos revelados por Diotima de Mantineia a Sócrates no Banquete de Platão, indicar alguns possíveis aspectos da representação do feminino na Antiguidade.
COMUNICAÇÕES
Apontamentos sobre o clássico e o feminino na Ifigênia de Eurípedes e Goethe
André Alves de Carvalho, Mestrando em Filosofia/USP
Johann Wolfgang von Goethe irá recriar, durante o período do chamado “Classicismo de Weimar”, o mito de Ifigênia. Esse mito já fora representado primeiramente por Eurípides em sua tragédia Ifigênia em Áulis, no século V a.C. Deste modo, nosso intuito nesta comunicação será o de apontar temas em comum presentes nas duas versões da obra, indicando assim o que podemos chamar de classicismo na obra do autor alemão, ou seja, a reelaboração de temas presentes na tragédia e poética grega e que foram reformulados no século XVIII pela dramaturgia pós-iluminista na Alemanha. Neste ponto, nosso maior interesse será o de analisar o caráter e desenvolvimento do papel do feminino e sua representação, seja na tragédia de Eurípedes, seja na peça de Goethe; e na oposição de conceitos como liberdade e necessidade, humano e divino, feminino e masculino.
Ifigênia e o sacrifício virginal
Andressa Maria Cruz Paixão, Filosofia, UFPA
Tomaremos como eixo de nossa apresentação o debate de Nicole Loraux sobre o sacrifício das virgens, em Maneiras trágicas de matar uma mulher, para pensar a figura de Ifigênia, levada ao sacrifício pelo pai, Agamêmnon, sem ter o direito de escolher não morrer.
A representação do corpo feminino em Santa Clara de Assis
Arilla Nicolle da Costa, História, UFPA Campus Bragança
A presente pesquisa é uma abordagem sobre o corpo feminino a partir do caso de Clara de Assis, analisando as penitências corporais que foram vinculadas com a sua vida e escritos. Nesse sentido, explorou-se sobre a vida da mulher no processo histórico do medievo, mais precisamente durante o século XIII. Este período foi investigado a partir das Fontes Franciscanas II, que, dentre outros, apresenta documentos sobre a vida desta mulher, que posteriormente foi canonizada pela Igreja romana. Para análise de dados, foi utilizada como fonte primária a Regra Monástica que ela escreveu, e como secundária sua Legenda e o Processo de Canonização que auxiliou para a investigação. Por conseguinte, as formas de dominação do corpo feminino por meio das normativas e das orientações da Igreja corroborou para a disseminação de discursos misóginos, pautados em trechos bíblicos e na ideia que se tinha ou/e tem do corpo da mulher no meio secular e clerical, influenciando em sociedades regidas sobre os princípios do patriarcado. Portanto, as práticas corporais no período analisado, nos revelam que era algo comum nos mosteiros, pois desta forma estariam limpos dos pecados. Este comportamento, não era feito somente por Clara, outras mulheres como Santa Catarina de Sena, Marie d’ Oignies, Margarida de Cortona e Ângela Foligno, também o faziam. Assim como frades da Ordem dos Pregadores. Essas práticas, tinham um papel de fazer expiação dos pecados na vida de Clara de Assis, estando vinculado com a espiritualidade cristã, no século XIII, pois desde a Antiguidade tardia, a purgação dos pecados era um modo de controle no meio clerical ou secular. Clara, ao colocar as formas de penitência na sua Regra, buscava contribuir para que os ideais franciscanos fossem contínuos, ou seja, a manutenção de uma forma vivendi.
Lisístrata: estória de resistência e história a contrapelo
Benedito de Jesus Serrão Rodrigues, Mestrando do PPGCITI, UFPA Campus Abaetetuba
Em A greve do sexo, de Aristófanes (411 a. C.), a personagem Lisístrata precede uma quebra de ruptura que se dá no contexto da guerra do Peloponeso, principalmente quando surge a necessidade de resistir e, assim, (re) inventar formas políticas capazes de escovar a contrapelo a conjugação das guerras no plano histórico daquela época. Lisístrata organiza uma assembleia, apontando um plano autentico que, mais tarde, consistia na tomada da Acrópole (signo de poder que é o grande financiador da guerra), isto é, a greve do sexo – greve que vai incorporar-se em Lisístrata para o trabalho de explicação da crítica como escovação. A greve do sexo enfrenta obstáculos corporificados no Coro de Velhos que tentam impedi-las, disso deriva a violência como elemento essencial, porque diz respeito ao estado de poder, da autonomia masculina que se funda em uma atitude patriarcal, que é temporal, naturalizada no dorso da história. Haverá uma tensão entre o discurso de Lisístrata e os argumentos do comissário e, como se percebe, o comissário mantêm sua postura política, de caráter teológico, limitando a ação feminina em tarefas domésticas a fim de mantê-las em casa. Lisístrata não deixa de exigir de si mesma e das demais mulheres uma exigência em caráter profético, que assegura a vitória feminina e, dá condição para toda a mulher construir sua experiência, de modo a relacionar seu corpo com a práxis e interagir em seu meio. Nesse sentido, este artigo procura compreender a resistência de Lisístrata, assim como suas formas de politização. Esta reflexão está organizada em três momentos: no primeiro, apresentamos alguns elementos conceituais para análise da peça teatral, examinando as relações entre narrativa e resistência (BOSI, 1995) para, em frente, articular a relação desses conceitos com ideias extraídas do conceito de tragédia (NIETZSCHE, 1886), com vistas à demostrar uma possível resistência trágica (SARMENTO-PANTOJA, 2014) na figura de Lisístrata, pois a resistência, de imanência trágica é construída a partir da subjetivação da personagem é, na verdade, a imagem de privação do corpo objetivamente representado. A greve do sexo busca pela mudança do status quo. É pela tragédia da obra que a história a contrapelo se realiza. Por fim, com base em pressupostos teóricos da história a contrapelo, traçamos relações entre processos de resistência feminina e suas tensões em sistemas sistematicamente patriarcais.
Diotima e o amor individual
Bruna da Silva Gemaque, Filosofia, UFPA
A abordagem proposta prevê pensar a noção de amor individual, tomando como referência o encômio de Aristófanes, cotejado com o elogio de Sócrates, que evoca a sacerdotisa de Mantineia para definir a natureza do amor.
Agave e a função do delírio nas Bacantes
Camila de Souza da Silva, Filosofia, SEC
Os estudos sobre as tragédias gregas, ao longo da história, nos mostram que sua importância vai bem além dos aspectos artísticos da encenação, afinal, podemos sempre reconhecer nessas obras questões de natureza política e, por conseguinte, uma intenção educativa do autor. As Bacantes de Eurípides, não foge a essa regra. E nessa tragédia o que nos parece necessitar de uma maior determinação é a função desempenhada pela personagem Ágave, mãe de Penteu, e o que pôde levar Eurípides a representá-la possuída em um delírio tão selvagem e primitivo. Nossa hipótese é que aqui, como em outras tragédias escritas por Eurípides, todo o conflito gira em torno da mesma tensão que fez de Alcibíades uma espécie de ícone das ambiguidades que expõem os homens como seres que alternam razão e desrazão, tema, aliás, encontrável também em Platão.
O belo entre o Hípias Maior e o Banquete
Cláudio de Souza Menezes Júnior, Filosofia, PIBIC UFPA
Na presente exposição, pretendemos analisar a temática do belo em dois diálogos platônicos: o Hípias Maior e O Banquete. Partiremos do fato de que diante do questionamento de Sócrates a Hípias sobre o que é o belo, o sofista se limita a responder o que é belo. Nesse jogo dialético entre o filósofo e o sofista, o segundo se apega à natureza visível da beleza, sem direcioná-la para questões da ordem dos valores, como pretende Sócrates. A partir dessa análise, sugerimos uma relação deste debate com o apresentado por Sócrates no Banquete, em que Sócrates relata os ensinamentos que obteve de Diotima acerca da essência do belo: as questões apresentadas no Hípias Maior são como um exórdio à teoria platônica da beleza, que se mostra em pleno desenvolvimento no Banquete ao ser reelaborada a partir da teoria das formas. Assim, por meio desse estudo do Hípias Maior e sua relação com o Banquete, podemos compreender um pouco mais a concepção platônica de beleza e trazer uma maior visibilidade ao Hípias Maior, que ainda hoje é pouco estudado – em comparação com os diálogos ditos autênticos.
O feminino como Outro nas máscaras de Ártemis e Gorgó
Fabrícia Ferreira, Filosofia, UFPA
Jean-Pierre Vernant em “A morte nos olhos – figurações do Outro na Grécia Antiga” levanta a questão sobre as diferentes maneiras de figurar o divino. Uma das maneiras de figuração ou “presentificação” dos deuses era a máscara. São três as divindades mascaradas – que são representadas por pura máscara ou que em seus cultos são usadas máscaras votivas ou conduzidas pelos celebrantes: Dioniso, Ártemis e Gorgó (Górgona, Medusa). Cada uma dessas máscaras diz respeito a experiência que os gregos tiveram do Outro, diz respeito, portanto, à alteridade, mas uma alteridade vivida, e que tem sua expressão no âmbito religioso, não uma alteridade do ponto de vista da lógica formal. Trataremos, partindo do texto de Vernant, do feminino como Outro representado nas máscaras de Ártemis e Gorgó. Ártemis – a deusa da lua, Senhora dos animais, soberana das margens, deusa do parto - cuida dos rebentos – sejam animais ou humanos, sejam machos ou fêmeas - até que estes estejam prontos para adentrarem no centro cívico e cumprirem plenamente seu papel social, podendo assim, deixar de ser o Outro para se tornarem o Mesmo. Gorgó representa a alteridade extrema, aquilo que é totalmente estranho, monstruoso e mortal.
A associação do feminino ao desequilíbrio na Oresteia de Ésquilo
Fernanda Pessoa de Oliveira Gomes, Direito, CESUPA
O presente trabalho tem como escopo analisar como a figura do feminino é associada ao desequilíbrio, por meio de uma revisão bibliográfica de caráter qualitativo da obra “Orestéia” de Ésquilo (458 a.C.). A pedagogia andocêntrica, propagada por meio das tragédias gregas demonstra a percepção dos estereótipos que eram atribuídos ao sujeito feminino com o intuito de aloca-los em modelos de comportamento regidos pelos cidadãos atenienses masculinos. Clitemnestra, a rainha que apreende os diversos níveis de densidade dramática, representa o feminino sendo encenado como transgressor da ordem social e, ao mesmo tempo, traz a ideia, vívida nas tragédias de Ésquilo, da interligação entre o mundo divino e o dos homens – a exemplo do contexto em que a rainha está possuída por justiça divina ao matar o marido. A associação do feminino ao desequilíbrio apresentada como metáfora do corpo desequilibrado. As Coéforas, segunda tragédia da trilogia Orestéia, cujo nome faz referência ao coro de mulheres portadoras das libações funerárias, demonstram as honras fúnebres como papel restrito às mulheres, precisamente às esposas, como um dos pilares da cultura ateniense. O coro tem um caráter teleológico de ser a porta voz dos valores da cidade, ou seja, como os homens atenienses veem a mulher e o que esperam dela. As Coéforas honram o rei morto, Agamêmnon, transmitindo um paralelo entre o feminino como o protetor da tradição familiar com a função alusiva aos sentimentos desarmônicos, as lamentações, choros, a personificação do desequilíbrio. As Eumênides, deusas que não deveriam ser nomeadas sob o risco de atrair o mal a quem as evocassem, apreendem a figura da raiva como parte do feminino que habita a ordem do mundo. Apesar de que nas tragédias de Ésquilo fossem dadas às mulheres representações, estas eram dosadas a partir de perspectivas de quem atuava na seara das atividades de guerra, da oratória e do ginásio: os homens. Nesse viés pode-se perceber uma dimensão pedagógica dada ao meio social por meio das tragédias, as quais obtinham a finalidade de ressaltar os moldes patriarcais. A domesticação de uma sociedade que proibia a atuação das mulheres nas esferas e almejava engendrar a representação do feminino o associando a desordem do mundo é objeto de estudo desde a primeira onda do feminismo (BEAUVOIR, 1949, p.20), e indagada, também, por Platão, quando este questiona a utilidade cívica da tragédia alegando que encenações de transgressões em ambientes emocionalmente carregados podem desencadear modelos perigosos. (ZELENAK, 1998, p.10).
Argumentação mítica em Platão
Hyan Haruyuki Nascimento Akiyama, Filosofia, PIBIC UFPA
Sabe-se que os diálogos de Platão têm argumentos complexos, nos quais as personagens usam dos mais variados elementos argumentativos, para expor ou refutar ideias. Nossa proposição é mostrar, a partir do mito de Er em República X 613e-621d, como os mitos platônicos superam o carácter alegórico para fundamentar o próprio debate filosófico, no caso em questão, a exposição da tese acerca da imortalidade da alma.
A mãe, a filha e a estrangeira: representações do feminino na tragédia grega
Iracy Rúbia Vaz da Costa, Teatro, Escola de Aplicação, UFPA
A tragédia grega é repleta de personagens femininas, ainda que o poder de construir representações estivesse sob o domínio dos homens. Portanto, se apenas o masculino tinha legitimidade para construir o texto e a cena no teatro grego, então como esses artistas representavam as mulheres e suas demandas sociais e afetivas? Essa comunicação tem como objetivo analisar as representações do feminino nas obras de Ésquilo, Sófocles e Eurípides, tragediógrafos basilares. Observamos três representações do feminino que se repetem em várias obras da tragédia, são elas: a mãe, a filha e a estrangeira. Portanto, para investigar sobre a figura materna na tragédia, nos basearemos nas personagens Jocasta, de Édipo rei e Medeia. Nas análises sobre a filha, traremos Antígona e Electra, e por fim, a personagem peregrina, Io, a estrangeira, presente na obra Prometeu Acorrentado.
A representação feminina de “Lilith” como metáfora e influência no papel social da mulher na antiguidade
Jéssica da Silva Miranda, Letras-Língua Alemã, UFPA
Neste estudo foi realizado uma comparação e descrição das características representações femininas de Lilith, personagem da mitologia e da literatura, com a figura da mulher da antiguidade perante suas relações e papel social na sociedade. Na análise procura-se ressaltar a história de Lilith como metáfora do comportamento e posições que eram impostos às mulheres na época, pois não possuíam uma condição de igualdade de gênero. Com isso percebe-se a influência e impacto que a representação ocasionou no comportamento e atitude do gênero feminino na antiguidade, tornando-se uma referência de luta pela liberdade e para o feminismo. Lilith é retratada como um mito em várias culturas, e de acordo com a literatura hebraica é considerada como a primeira mulher feita para Adão, antes de Eva, sendo caraterizada como uma mulher insubmissa e indomável por não aceitar a condição de desigualdade de gênero, revoltou-se contra o sistema patriarcal, pois queria as viver as mesmas condições sociais do sexo oposto. Devido a esta sua postura, foi castigada a ser anjo negro. Lilith é um símbolo de representação de resistência, pois quando ainda morava no paraíso, queria ser mais do que lhe era concedido ser. A história de Lilith mostra que desde o início da sociedade, as mulheres eram vistas como ser inferior e dependente do sexo masculino, que era considerado superior, a qual cabia o poder da autoridade.
Beleza, recordação e desejo no Fr.16 de Safo
Marjore Mariana Lima Lacerda, Filosofia, UFPA
Nas primeiras estrofes do Fr.16, Safo enfatiza que a coisa mais bela sobre a terra é aquilo que se ama. Para exemplificar suas palavras, recorre ao mito de Helena: a que superava a todos os humanos em beleza, deixou o nobre marido para trás e fugiu para Tróia. A ação de Helena a faz recordar de sua amada Anactória que está ausente diante de si, mas ainda assim presente em sua memória. Procuraremos analisar assim, de que maneira a recordação da beleza do objeto amado torna-se o catalisador para o desejo; analisaremos, da mesma forma, como Safo dialoga com a tradição homérica e a ressignifica em seus versos, de um modo puramente subjetivo.
As representações do feminino na Legenda áurea: Uma análise a partir das hagiografias das santas do cristianismo primitivo
Mônica Cavalcante de Souza, História, UFPA-Campus Bragança
A obra Legenda Áurea é um compilado de textos hagiográficos reunidos e organizados pelo frade dominicano Jacopo de Varazze durante o século XIII, porém, mesmo que tenha sido organizado em tal período, o legendário possui várias hagiografias de santas que viveram durante os primeiros séculos do cristianismo primitivo. Em face disto, este trabalho busca analisar como as mulheres dos séculos I à IV são representadas na obra a partir da análise das hagiografias femininas que se inserem neste recorte temporal, para tal será observado quais as qualidades atribuídas a estas santas, como as mesmas se comportam, qual o espaço social dedicado a elas, quais características são exaltadas e quais são apresentadas como defeitos. É válido salientar que por muito tempo as representações das mulheres ao decorrer da história foram utilizadas para construir e legitimar estereótipos misóginos que as apresentavam como frágeis, passivas e submissas a autoridade masculina, e no meio religioso, especialmente durante a Idade Média, ainda ganharam a alcunha de pecadoras. Porém, mesmo que alguns estereótipos estejam presentes na Legenda Áurea, tal obra apresenta suas personagens como mulheres fortes, insubmissas a autoridade masculina, firmas em suas escolhas, as quais não titubeiam em debater com autoridades para defender seu posicionamento em relação ao cristianismo e mostram imposição a tutela masculina quando se negam a casar. Portanto, mesmo sendo uma obra religiosa, organizada na idade média por um frade e que tinha o objetivo de servir como modelo ao fieis, a mesma apresenta mulheres que vivem em um meio patriarcal e misógino, mas que se impõem a tal sociedade, mesmo que de forma indireta.
Violante do Céu: A Fênix dos Engenhos Lusitanos
Sâmila Nascimento da Silva, Letras Português-Francês, UNIFAP
Esta análise tem como objetivo trazer algumas reflexões acerca da escrita feminina ao longo do tempo, para em seguida haver o enfoque em Violante do Céu, uma importante escritora da literatura barroca portuguesa. Nascida em Lisboa, Violante do Céu foi uma religiosa e também escritora barroca portuguesa, que professou desde 29 de agosto de 1630 no convento de Nossa Senhora da Rosa. Após o sonho de casar-se com Paulo Gonçalves de Andrada ser destruído por seu próprio avô, e desejando estudar mais, Violante decide abraçar a vida como religiosa, até mesmo para que pudesse especializar-se em literaturas, estudos sociais e culturas, filosofia, teologia e música, o que naquele tempo só era permitido se a mulher estivesse vinculada a uma ordem religiosa. Conhecida pelos meios culturais da época como “Décima Musa”, “Safo moderna” e “Fênix dos Engenhos Lusitanos”, foi um dos máximos expoentes da poesia barroca portuguesa, por conta de sua escrita subversiva que questionava valores da época, mas ao mesmo tempo rica, sendo capaz de prender a atenção do leitor através de sua retórica e lirismo, os quais geralmente apresentavam temáticas neoplatônicas, como a existência, a morte, a filosofia, a dualidade e o amor.
Diotima e a perspectiva feminina sobre o amor
Sandy Naeli Wanderley Iketani, Filosofia, UFPA
A partir do Banquete de Platão, buscaremos compreender qual o propósito e o lugar de Diotima no symposion, que era um espaço social e educacional de trocas entre homens. Refletiremos acerca dos possíveis motivos de sua inserção no diálogo, e a respeito de seus ensinamentos sobre o Amor e o Belo. Com base no conceito fundamental em seu discurso de um “parto em beleza”, analisaremos de que modo a experiência feminina pode ter uma conduta ativa no modelo erótico da sacerdotisa de Mantineia. Desse modo, mostraremos o papel central de Diotima em meio aos discursos anteriores, através de seu novo entendimento acerca de Eros, assim como a importância que o feminino exerce em seus ensinamentos.
As damas de Tebas e Inverness
Willian Cristophile da Silva Pereira, Letras, UFPA
O presente trabalho tem como objetivo realizar uma leitura comparativa do feminino na Tragédia Grega “Édipo Rei”, de Sófocles, e do Drama Histórico Renascentista “Macbeth”, de Shakespeare, através das Ações Trágicas e Destinos das personagens Jocasta e Lady Macbeth. Neste afã, interpretar-se-ão os eventos trágicos envolvendo as supracitadas personagens e como eles ocorrem, cotejando diferenças e parecenças nas trajetórias dramatúrgicas das duas rainhas através das categorias aristotélicas hamartía, anagnórisis, peripéteia e katastrophé, presentes em “Poética”. Do mesmo modo, realizar-se-á leitura do Destino das personagens através do pensamento estoico.
O caráter pedagógico da divergência entre poesia e filosofia
Yohan Brendo Nunes Albuquerque, Filosofia, UFPA
O objetivo é apresentar em que se baseia a “divergência” entre poesia e filosofia. Tendo como fundamento a crítica que Platão faz em relação a poesia mimética. A crítica platônica está ligada ao fato da poesia ser usada como parâmetros para a educação na Grécia Antiga. Para Platão, a poesia em seu caráter mimético está a três graus de distância da verdade, pois a poesia não apresenta as coisas como realmente são, mas apenas sua imagem. Embora Platão reconheça Homero como educador da Grécia, questiona o risco que a poesia representa na formação dos jovens. Para o filósofo, o poeta deve levar em consideração que somente uma educação pela filosofia possibilitaria a harmonia da alma e instigaria o apreço pelas verdadeiras virtudes.